Entenda o que é Terapia Cognitivo-Comportamental e os benefícios
- Gislaine Soares
- 31 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
Você já se pegou pensando que gostaria de ter agido de outra forma em alguma situação ou que interpretou um fato de forma equivocada e ficou desconfortável por isso? Ou então, que gostaria de mudar como se sente e/ou se comporta em algumas situações, mas não consegue fazê-lo?
Pois bem, você sabia que existe uma abordagem na psicologia que trabalha exatamente com esse ponto? Estou falando da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa abordagem parte do pressuposto de que não são os acontecimentos que definem as formas de agir e de pensar do ser humano, e sim como ele os interpreta.
O criador dessa abordagem foi Aaron Beck que desenvolveu uma forma de psicoterapia no início da década de 1960 denominada originalmente “Terapia Cognitiva”, fruto dos primeiros ensaios clínicos de pesquisa voltados para verificação de resultados no contexto da depressão. Apesar do interesse inicial no tratamento da depressão, a continuidade em verificar resultados fez com que a Terapia Cognitiva baseasse sua prática em evidências, contribuindo para que também ganhasse destaque no tratamento de outras condições de saúde.
Mas em que se baseia esse tipo de abordagem? O tratamento também está fundamentado em uma conceituação, ou compreensão, de cada paciente (suas crenças específicas e padrões de comportamento). A função do terapeuta é procurar produzir, de várias formas, uma mudança cognitiva (flexibilização e/ou modificação no pensamento e no sistema de crenças do paciente) para que haja uma mudança emocional e comportamental duradoura.
Existe mais de uma Terapia Cognitiva?
Atualmente o termo “Terapias Cognitivo- Comportamentais” diz respeito às diferentes abordagens que compartilham um mesmo pressuposto: o processamento da informação (cognição) é o mediador da nossa relação com o ambiente. Ou seja, a forma como entendemos as situações – como eu disse no comecinho do texto -, e não as situações em si, é que irão modular nossos sentimentos e comportamentos.
Este entendimento nem sempre é racional ou lógico, e varia de pessoa para pessoa a partir das suas características pessoais. A individualidade de cada um é influenciada pela história de vida, predisposições genéticas e fisiológicas etc. Isso contribui para a formação de uma rede de crenças que irão nortear as atitudes e reações emocionais de cada um.
Essas crenças que desenvolvemos ao longo da vida se desdobram em padrões de funcionamento automáticos e tendem a influenciar comportamentos e emoções. Assim, o processo de Terapia Cognitiva envolve o conhecimento da atividade cognitiva de cada um, que pode contribuir para uma baixa qualidade de vida.
As diversas Terapias Cognitivas trabalham a forma como processamos as informações e nos relacionamos com nossos processos mentais, como os pensamentos e interpretações que temos sobre as situações. No entanto, existem variações em relação ao método de intervenção e os modelos de funcionamento cognitivo que cada uma delas considera.
Alguns exemplos de abordagens cognitivas são: Terapia Cognitiva de Beck, Terapia do Esquema, Terapia Cognitivo-Comportamental baseada em Mindfulness, Terapia Cognitivo Processual, Terapia da Reciclagem Infantil, Terapia Racional Emotivo-Comportamental, Terapia da Aceitação e Compromisso, Terapia da Compaixão.
Ainda não ficou muito claro para você? Então continue a leitura porque no próximo tópico vou exemplificar alguns princípios importantes da terapia cognitivo-comportamental que podem clarear tudo na sua cabeça!
Conheça os 10 princípios básicos do tratamento
Ainda que o processo terapêutico deva se adequar a cada indivíduo, e aos métodos e modelos de funcionamento cognitivo que as abordagens cognitivas consideram, existem princípios que estão presentes na Terapia Cognitivo-Comportamental para todos os pacientes. Confira quais são eles:
1) A Terapia Cognitivo-Comportamental está baseada em uma formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas do paciente e em uma conceituação individual de cada um em termos cognitivos.
2) Essa abordagem requer uma aliança terapêutica sólida. É importante que, como em todo processo terapêutico, haja confiança no profissional e no processo.
3) Ela enfatiza a colaboração e a participação ativa. O terapeuta encoraja o paciente a encarar a terapia como um trabalho em equipe. Juntos – paciente e terapeuta – decidem o que trabalhar em cada sessão, a frequência com que devem se encontrar e o que o paciente pode fazer entre as sessões como exercício da terapia.
4) A Terapia Cognitivo-Comportamental é orientada para os objetivos e focada nos problemas. Nas primeiras sessões, o terapeuta pede que o paciente enumere seus problemas e estabeleça objetivos específicos, de modo que haja o entendimento de onde se quer chegar.
5) Essa abordagem enfatiza o presente. O tratamento da maioria dos pacientes envolve um foco intenso nos problemas atuais e em situações específicas que são angustiantes para eles.
6) Ela também é educativa, tem como objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída.
7) A Terapia Cognitivo-Comportamental pretende ser limitada no tempo. Os objetivos do terapeuta são promover o alívio dos sintomas, ajudar o paciente a resolver seus problemas mais urgentes e ensinar habilidades para evitar a recaída. Mas o fator tempo é relativo, dependendo de cada situação.
8) As sessões de Terapia Cognitivo-Comportamental são estruturadas. Independentemente do diagnóstico ou do estágio do tratamento, seguir uma determinada estrutura em cada sessão auxilia na eficiência e a eficácia.
9) A Terapia Cognitivo-Comportamental ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças, o seu funcionamento cognitivo e comportamental. Aqui, o papel do terapeuta é ajudar o paciente a identificar as principais cognições e a adotar perspectivas mais flexíveis e adaptativas. Isso faz com que o paciente se sinta melhor emocionalmente, se comporte com mais funcionalidade e/ou diminua sua excitação psicológica.
10) A TCC usa uma série de técnicas para mudar/flexibilizar o pensamento, o humor e o comportamento. Neste momento, as técnicas comportamentais e de solução de problemas são fundamentais.
A TCC funciona mesmo?
A Terapia Cognitivo-Comportamental tem sido amplamente testada desde que foram publicados os primeiros estudos científicos, em 1977 (Rush, Beck, Kovacs e Hollon). Mais de 500 deles demonstraram sua eficácia para uma série de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos e problemas médicos com componentes psicológicos. A TCC reduz o sofrimento das pessoas e as auxilia a permanecer bem.
Conheça melhor os casos em que essa abordagem pode ser eficiente
Como dito no tópico anterior, as Terapias Cognitivas baseiam sua prática em evidências e são várias as situações em que a TCC pode auxiliar no tratamento do paciente, como exemplifico melhor abaixo:
Transtornos psiquiátricos (transtorno depressivo maior, depressão geriátrica, transtorno de ansiedade generalizada, ansiedade geriátrica, transtorno de pânico, agorafobia, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno da conduta, abuso de substância, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, ansiedade pela saúde, transtorno dismórfico corporal, transtornos da alimentação, transtornos da personalidade, agressores sexuais, transtorno de hábitos e dos impulsos, transtorno bipolar (com medicação), esquizofrenia (com medicação).
A Terapia Cognitivo-Comportamental pode ainda auxiliar no tratamento de problemas psicológicos como: conjugais e familiares, jogo patológico, luto complicado, angústia, desregulação emocional, raiva e hostilidade.
Problemas médicos com componentes psicológicos
E não para por aí! A TCC pode ainda contribuir para a evolução dos tratamentos relacionados a problemas médicos com componentes psicológicos como: dor lombar crônica, crises de dor da anemia, enxaqueca, Tinnitus (zunido), dor do câncer, transtornos somatoformes, síndrome do intestino irritável, síndrome da fadiga crônica, dor de doença reumática, disfunção erétil, insônia, obesidade, vulvodínea, hipertensão e Síndrome da Guerra do Golfo.
A TCC é destinada a um público específico?
As Terapias Cognitivo-Comportamentais têm sido adaptadas a pacientes com diferentes níveis de educação e renda, assim como a uma variedade de culturas e idades, desde crianças até adultos com idade mais avançada. É usada atualmente em cuidados primários e outras especializações da saúde, escolas, programas vocacionais e prisões, entre outros contextos. É utilizada nos formatos de grupo, casal e família.
Preciso ter um diagnóstico para iniciar um tratamento por meio das terapias cognitivas?
A resposta para essa pergunta é não! Não é preciso ter um diagnóstico para se beneficiar das Terapias Cognitivas. Apesar de, frequentemente se utilizar os manuais de classificação como facilitadores da condução de pesquisas para verificação das melhoras estratégias de intervenção a serem implementadas, não é necessário apresentar diagnóstico psiquiátrico prévio para se colher os ganhos da Terapia Cognitiva. Ela pressupõe que os diagnósticos são importantes norteadores do tratamento, no entanto, as condições emocionais apresentam-se de forma dimensional.
Uma escolha que funciona
Como apresentei aqui, as Terapias Cognitivo-Comportamentais surgiram há poucas décadas, e nesse curto tempo tornaram-se o mais validado e mais reconhecido sistema de psicoterapia e a abordagem de escolha ao redor do mundo para vários transtornos psicológicos e sofrimento emocional.
Eu tenho trabalhado com ela há 15 anos e já presenciei excelentes resultados que fizeram muita diferença na vida dos meus pacientes. Mas, se você ainda ficou com alguma dúvida, eu estou à disposição para conversarmos e esclarecer qualquer outro ponto. Conte comigo!
Ah! Gostou deste post? Então compartilhe-o em suas redes sociais, lembre-se de me marcar no Instagram (@gislainesoares.psicologa) ou no Facebook (Gislaine Soares - Psicóloga Clínica).
Comments