Terapia para crianças, você conhece os benefícios?
- Gislaine Soares
- 10 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
Você já ouviu aquele ditado “é de pequeno que se torce o pepino”? Provavelmente você deve ter ouvido quando presenciou alguém dando aquela bronca no filho, certo? Mas, essa máxima também pode ser aplicada em outros contextos. O processo terapêutico é um deles. O maior benefício de se iniciar a prática clínica com crianças é o fato de que intervenções precoces podem evitar situações de sofrimento psicológico que poderiam se arrastar por um longo período e, até mesmo, comprometer a funcionalidade cognitivo-comportamental adulta. Investir na saúde emocional e comportamental dos pequenos é colher frutos em adultos também mais saudáveis nesses aspectos.
Criatividade como ponto de partida
A diferença fundamental entre a psicoterapia cognitiva comportamental para adultos e para as crianças é a capacidade criativa do terapeuta para criar linguagens que sejam capazes de acessar a criança e promover o ambiente terapêutico propício ao desfecho do tratamento. Assim, a prática clínica para crianças requer uma grande capacidade inovadora por parte de quem a pratica. Trazer o lúdico e a diversão faz toda diferença. Não à toa estou aqui buscando sempre novas formas de trabalhar com os pequenos em meu consultório.
Em que se baseia a Terapia Cognitiva Comportamental?
A terapia cognitiva baseia-se na teoria da aprendizagem social e usa uma mistura de técnicas, muitas das quais baseadas em modelos de condicionamento operante e clássico. Em síntese, a teoria da aprendizagem social parte do pressuposto de que o ambiente, as características temperamentais e o comportamento situacional de uma pessoa determinam-se reciprocamente e que o comportamento é um fenômeno dinâmico, em evolução. Os contextos e a percepção que cada um tem deles influenciam o comportamento, e este, por sua vez, molda os contextos.
No contexto clínico, o profissional elabora, considerando os contextos e demandas da criança, dos pais, da escola, etc, um plano de objetivos e metas a trabalhar considerando os repertórios cognitivos e comportamentais da criança e a análise funcional das emoções e dos comportamentos da mesma. Assim, com criatividade conduz o tratamento de forma a promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, flexibilização cognitiva e novos repertórios de comportamento.
Mas, afinal, qual a importância da Terapia Cognitivo Comportamental infantil?
Este modelo incorpora explicitamente questões de contexto sistêmico, interpessoal e cultural que são tão essenciais à psicoterapia infantil. Os sintomas não ocorrem no vazio, portanto os clínicos devem considerar as circunstâncias particulares ao avaliar e tratar uma criança ou adolescente. Em geral, embora considerando o contexto, os terapeutas cognitivos intervêm em nível cognitivo-comportamental para flexibilizar padrões de pensamento, de ação, sentimentos e reações corporais.
A forma como crianças e adolescentes interpretam suas experiências molda profunda-
mente seu funcionamento emocional. Sua visão e como responde a essa visão é o foco principal do tratamento. A forma como os mais jovens constroem “embalagens mentais” sobre si mesmos, os relacionamentos com outras pessoas, as experiências e o futuro influenciam suas reações emocionais. As crianças e os adolescentes não recebem ou respondem passivamente a estímulos ambientais, antes, elaboram ativamente informações selecionando, codificando e explicando as coisas que acontecem a si e aos outros e respondem comportamentalmente a essa “leitura”.
Existem diferenças entre Terapia Cognitiva com adultos e com crianças e adolescentes?
A resposta a essa pergunta é sim, existe! A primeira razão e mais óbvia é que poucas crianças vão para a terapia por sua própria vontade. Em geral, os responsáveis quem as levam em função de entender a necessidade. Além disso, a experiência clínica sugere que, frequentemente, as crianças são encaminhadas para terapia porque suas dificuldades psicológicas criam problemas para algum sistema, como a escola ou família.
A terapia cognitiva com crianças baseia-se geralmente em uma abordagem empírica, de “aqui-e-agora”. Visto que as crianças são orientadas à ação, elas aprendem com facilidade fazendo. Associar habilidades socioemocionais a ações concretas ajudam as crianças a prestar atenção, a lembrar e a realizar o comportamento desejado. A motivação das crianças aumentará quando elas estiverem se divertindo.
Outro ponto é em relação ao fato de as crianças terem capacidades, limitações, preferências e interesses diferentes dos adultos. Sentar em uma cadeira olhando outra pessoa falar sobre problemas psicológicos pode parecer estranho e perturbador para os mais jovens. Visto que a terapia cognitiva com crianças baseia-se em capacidades verbais e cognitivas, nós precisamos considerar cuidadosamente as idades das crianças, bem como suas habilidades socio-cognitivas e adaptar o nível de intervenção à idade e às capacidades do seu desenvolvimento.
Nessa adaptação considerar etapas do desenvolvimento e maturação cognitiva delas e associa-las ao lúdico e aos seus interesses. Crianças menores tendem a beneficiar-se de técnicas cognitivas simples como autoinstrução, concretas associadas ao imaginário, e intervenções comportamentais, enquanto adolescentes provavelmente se beneficiarão de técnicas mais sofisticadas, que exigem análises racionais.
Vale a pena buscar o processo psicoterapêutico para crianças?
Novamente digo “sim”! Eu sempre digo que iniciar o tratamento psicoterapêutico contribui para que tenhamos adultos mais saudáveis, capazes de tomar decisões e de administrar conflitos, de fazer gestão de suas emoções e escolhas de comportamentos “saudáveis” a si e ao meio. Quero finalizar dizendo de alguns pontos que considero importantes nesse processo: eu tento sempre enfatizar a aliança terapêutica que crio com os meus pequenos pacientes e, não somente com eles, é importante incluir os membros de seu sistema familiar e social. Esses são aliados e agentes terapêuticos, desenvolvedores da criança.
Outro ponto é que no processo terapêutico com as crianças busco sempre optar por perguntas a afirmações, estar alerta ao afeto e conquistar a confiança para que o processo seja rico e proveitoso, tanto para os pequenos quanto para mim. Isso porque eu vivo aprendendo em minhas sessões. Repito que buscar os motivadores da criança, o que ela valoriza e utilizar como ferramenta para conduzir o processo e o desenvolvimento faz toda diferença.
A nossa mente é linda demais e o quanto antes pudermos direcionar para que os talentos sejam potencializados e que aprendamos a lidar com nossas fragilidades, alcançaremos resultados incríveis. E, se você adulto que está lendo agora e pensando “vixe, tarde demais para mim!”, nada disso! A beleza do processo terapêutico reside exatamente neste ponto, na possibilidade de recalcular a rota rumo ao caminho que nos fará pessoas mais felizes e saudáveis, independentemente da fase da vida que estivermos. Até porque “jamais alcançaremos resultados diferentes se continuarmos fazendo tudo da mesma forma”.
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